Programação

Invenções da Mulher Moderna, para além de Anita e Tarsila

Exposição

de 14 de junho a 20 de agosto de 2017
Abertura 13 de junho

Passada

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A mostra inédita, organizada e realizada pelo Instituto Tomie Ohtake, sob a curadoria de Paulo Herkenhoff, coloca em destaque a produção e a trajetória de diversas mulheres que desafiaram convenções e limites de suas épocas, nos séculos XIX e XX no Brasil, seja no campo estético ou social. Invenções da Mulher Moderna, Para Além de Anita e Tarsila é resultado de uma extensa pesquisa que o curador Paulo Herkenhoff desenvolve há décadas, alimentada pela contínua reflexão sobre a obra de diversas mulheres artistas brasileiras. Esta mostra, portanto, desdobra o já conhecido comprometimento de Herkenhoff com o registro histórico da produção feminina e com a reflexão teórica sobre suas invenções.

Para a exposição, com cerca de 300 obras, além de fotos e documentos, o curador toma como referência dois pilares do modernismo no Brasil, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, e apresenta novos apontamentos sobre suas obras e histórias. Em torno dessas referências, a maior parte das obras e das narrativas presentes na exposição vai mais longe, e apresenta mulheres que são em sua maioria desconhecidas do grande público.

Entre mostra e catálogo, o curador não pretende organizar um dicionário/glossário de nomes e imagens, muito menos construir uma grande narrativa completa e acabada, mas situar de maneira historiográfica e crítica diversas personagens que complementam e transformam a história da cultura e da arte no país.

Assim, ao invés de uma narrativa linear, a mostra elege diversos núcleos, que se distribuem como uma rede ou uma constelação. Núcleos heterogêneos são estabelecidos e dão visibilidade a questões e temas relevantes, que abrangem tanto dados históricos e factuais quanto tentam evidenciar a subjetividade das artistas escolhidas. As invenções, como sugere o título, dizem respeito às criações dessas mulheres e também à construção da imagem da mulher que foi sendo aberta e lapidada ao longo dos séculos XIX e XX. Além de seu pioneirismo, essas personagens têm em comum o enfrentamento de tensões e conflitos de diversas ordens.

Em MULHERES DE VASSOURAS – trocadilho entre as mulheres e a cidade carioca que foi polo do café do século XIX e de revoltas de escravos – estão: retratada em pintura anônima, Eufrásia Teixeira Leite (1850 – 1930), intelectual que se relacionava com Joaquim Nabuco e se notabilizou por libertar seus escravos e por seus atos de filantropia; registros da prisão, oriundos do Arquivo Nacional, de Mariana Crioula, negra, casada com o quilombola Manoel Congo e que, ao seu lado, participou da maior fuga de escravos ocorrida em 1838; e obra de Abigail de Andrade (1864 – 1890, França) que, segundo o curador, foi uma das primeiras a executar no Brasil as chamadas pinturas de gênero, pautadas nas cenas cotidiana de interiores doméstico.


Para pensar as MULHERES DO SÉCULO XIX, Herkenhoff se vale da ideia do “muxarabi”. O elemento da arquitetura que lembra uma grade de madeira, de origem árabe, permite entrada da luz, se pode ver de dentro para fora, mas não de fora para dentro. Essa posição representa o lugar protegido e reservado que era designado à mulher e foi, gradualmente, superado conforme mulheres decidiam abandonar tal “mediação” ao pintar e registrar a cidade, encarando e sendo encaradas de volta. No século XIX houve cerca de 50 mulheres conhecidas como pintoras e a exposição reunirá cerca de 15 delas.

Já o núcleo MODERNAS ANTES DO MODERNISMO elenca nomes de artistas que marcaram a época e o local em que viveram, por estarem desvinculadas dos princípios da arte acadêmica, porém não integrando o modernismo organizado como vanguarda no país no começo do século XX. É o caso da espanhola, que chegou ao Brasil nos anos de 1890, Maria Pardos em Juiz de Fora, Minas Gerais, uma pintora da intimidade e do mundo privado e que ganhou diversos prêmios em salões. Outra artista pertencente a este grupo é Nair de Teffé (1886 – 1981, RJ) que, segundo o curador, foi a primeira caricaturista mulher de quem se tem notícia em escala mundial.

O segmento dedicado à FOTOGRAFIA evoca a atuação da mulher no século XIX, como a chegada, em 1842, de cinco daguerreotipistas no Rio de Janeiro, dentre eles, uma mulher. A mostra traz a figura que modificou os parâmetros da fotografia no século XIX, Fanny Volk, alemã radicada em Curitiba no ano de 1881. Com interesse voltado ao social, uma de suas pesquisas constava de fotografar o trabalho masculino ao ar livre. Já entre as presenças no início do século XX o curador ressalta as fotografias de Hermínia Nogueira Borges (1894, RJ – 1989, RJ), fundadora do Foto Clube Brasileiro, no Rio de Janeiro, e as cerca de 10 mulheres que dirigiram estúdios, a primeira em 1908, no Estado de São Paulo, e em 1910, na capital. As lentes estrangeiras que chegam ao Brasil no século XIX também são investigadas pelo curador que, no caso, envolve mulheres e homens com olhares não modernista, pois se afastavam de questões nacionalistas e preocupavam-se com a subjetividade e os registros sociais.

Um dos pilares da mostra, ANITA MALFATTI (1889 – 1964, SP), além de pinturas, comparece acompanhada de uma análise crítica do texto “Paranoia ou mistificação?” (1917), de Monteiro Lobato. Para dissecar o texto de Lobato, que ficou célebre pelo impacto que teve na percepção da trajetória da artista, Herkenhoff baseia-se no código civil da época. Lobato era Procurador do Estado e os termos de seu artigo refletiam o pensamento retrógrado que tratava a mulher como cidadão minoritário, parcialmente incapaz de tomar decisões. Já sobre TARSILA DO AMARAL (1886 – 1973, SP), além de uma série de pinturas, a exposição apresenta desenho/ estudo do Abaporu (1928).

Em ESCULTORAS há obras a partir da primeira metade do século XX, concebidas por artistas como: Nicolina Vaz de Assis (1874, SP – 1941, RJ), que na cidade de São Paulo tem uma de suas mais conhecidas esculturas, a Fonte Monumental na Praça Julio de Mesquita (1927), participa com algumas de suas peças em bronze e um retrato seu pintado por Eliseu Visconti; Zelia Salgado (1904, SP – 2009, RJ), que foi professora da Lygia Pape, ganhará destaque a partir de alguns momentos de sua obra, como o que faz referência à Unidade tripartida, de Max Bill; e Adriana Janacopoulos (1897, RJ), reconhecida por conceber monumentos, cabeças e bustos, tem um de seus trabalhos representado.

MARIA MARTINS (1894, MG – 1973, RJ) é um núcleo em si. A curadoria evidencia a ousadia de sua produção ao abordar diretamente o desejo como centro poético de sua obra e a cópula como tema direto de algumas. A abordagem do trabalho enfatiza o contraste dessa atitude com o pudor vigente no Brasil naquele período.

Já para Lygia Clark (1920, MG – 1988, RJ), a mostra constrói um percurso pelas noções poéticas fundamentais de sua obra, com leitura e análise de conceitos como o de “espaço modulado”, enquanto Lygia Pape (1927 – 2004, RJ) é apresentada por meio de alguns de seus vídeos, como Eat me (1975) e Divisor (1967). Tomie Ohtake (1913, Kioto, Japão – 2015, SP) é aproximada da pintura de Alina Okinaka (1920, Hokkaido Japão – 1991, SP), formando o núcleo MULHERES JAPONESAS, que traz questões sobre o silêncio, a fala e a escrita, análogas à obra de Mira Schendel que acrescenta, ao silêncio e à fonética, o indivisível.

Por fim, produções pouco conhecidas pelo grande público, por partirem de personagens que não vêm do eixo Rio-São Paulo compõem AS AMAZONAS, com Julieta de França (1872 – 1951, PA) e Antonieta Santos Feio (1897 – 1980, PA), ambas de Belém e com estudos em arte na França e Itália.  Julieta de França aproximou-se do Art Nouveau e expôs junto de Rodin, na França. Foi uma das primeiras mulheres a enfrentar o regime acadêmico e disputar os espaços com os homens artistas, sendo duramente criticada por isso. Antonieta Santos Feio usou seu olhar atento para representar figuras e personagens locais e seus costumes. Em um primeiro momento suas obras dedicam-se à figura da mulher engajada no trabalho e na religião e depois passa a mostrar a extração da borracha, universo majoritariamente masculino.

vídeo com curador paulo herkenhoff
ACESSIBILIDADE
PROGRAMA DE ATIVIDADES
O Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake oferece uma série de atividades gratuitas ligadas à exposição Invenções da mulher moderna, para além de Anita e Tarsila, voltadas a diferentes públicos.
VISITAS AGENDADAS
Com duração de duas horas, a visita contempla uma conversa entre educadores e visitantes na exposição e uma atividade prática em ateliê. As conversas consideram o contexto específico da exposição, a linha curatorial, leitura de imagens e os interesses e repertório dos visitantes, professores e alunos. A atividade em ateliê busca a vivência de uma experiência que se dá pelo fazer, colocando os visitantes em contato com materiais, propostas e questionamentos disparadores de processos de criação coletivos ou individuais. Quartas e sextas-feiras, das 10 às 12h e das 14h às 16h Grupos com até 40 participantes por período Crianças a partir de 5 anos Gratuito Inscrições: Tel. 11 2245 1937 Informações: setoreducativo@institutotomieohtake.org.br
VISITAS EM LIBRAS
Mediadas por um educador surdo, incluem uma conversa na exposição seguida de atividade poética em ateliê. Terças, quintas e sextas-feiras, das 11h às 17H Grupos com até 25 participantes por período Gratuito Inscrições: Tel. 11 2245 1937 Informações: setoreducativo@institutotomieohtake.org.br
MARCENARIA PARA MULHERES
Produção de objetos de madeira com o uso de ferramentas manuais e elétricas, voltada para mulheres. Caixa de ferramentas, 20 de junho, às 14h30 Painel de acessórios, 20 de julho, às 14h30 Nicho para guardar livros, 12 de agosto, às 14h30 16 vagas Gratuito Inscrições: : www.institutotomieohtake.org.br Informações: Tel. 11 2245 1920 ou setoreducativo@institutotomieohtake.org.br
ABERTURA ESPECIAL PARA PROFESSORES
Abertura exclusiva para professores e educadores com distribuição da publicação educativa. Além da visitação livre, serão oferecidas visitas mediadas com educadores em quatro horários diferentes. 19 de junho Visitação livre: das 12h às 21h Visitas mediadas: 13h, 15h, 17h e 19h. Grupos com até 40 participantes por período Gratuito Inscrições: : Tel.11 2245 1937 Informações: setoreducativo@institutotomieohtake.org.br
PEÇA - “O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO, A RAINHA DO CÉU”
A peça adaptada por Natalia Mallo e encenada por Renata Carvalho apresenta a seguinte reflexão: “E se Jesus vivesse nos tempos de hoje e fosse uma mulher transgênero?” O espetáculo é uma mistura de monólogo e contação de histórias em um ritual que mostra Jesus no tempo presente, na pele de uma mulher transgênero. 24 de junho, às 21h Gratuito Não recomendado para menores de 18 anos 150 vagas Informações: setoreducativo@institutotomieohtake.org.br
NO COLO
Atividades de descobertas sensoriais para bebês de até 18 meses e famílias sobre temas das exposições em cartaz no Instituto Tomie Ohtake. Programação 28 de junho, às 14h30 15 de julho, às 10h30 e às 14h30 26 de julho, às 14h30 5 de agosto, às 10h30 e às 14h30 12 de agosto, às 10h30 e às 14h30 16 de agosto, às 14h30 18 vagas por período Gratuito Informações: www.institutotomieohtake.org.br Tel. 11 2245 1937 ou setoreducativo@institutotomieohtake.org.br
ENCONTRO COM PROFESSORES
O encontro com professores constitui um espaço de troca entre os educadores do Instituto Tomie Ohtake e professores, educadores e assistentes sociais de outras instituições. A programação de cada encontro prevê visita à exposição, realização de atividade em ateliê, discussão sobre mediação e apresentação da publicação educativa desenvolvida pelo Núcleo de Cultura e Participação. 14 de julho, sexta-feira às 18h 40 vagas Gratuito Inscrições: Tel. 11 2245 1937 Informações: setoreducativo@institutotomieohtake.org.br
CONVERSAS EM FLUXO
Programa de conversas com pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento sobre questões relacionadas às exposições em cartaz no Instituto Tomie Ohtake. 17 de agosto, às 19h 40 vagas Gratuito Inscrições: Tel. 11 2245 1937 Informações: setoreducativo@institutotomieohtake.org.br
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
Contações de histórias para todas as idades com recursos de audiodescrição para pessoas com e sem deficiência visual e intérprete de LIBRAS (língua brasileira de sinais) sobre exposições em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, com diversos temas e linguagens variadas de arquitetura, fotografia, arte moderna e contemporânea. Programação 28 de julho, às 9h30 e às 14h30 29 de julho, às 11h 17 de agosto, às 9h30 e às 14h30 18 de agosto, às 9h30 e às 14h30 19 de agosto, às 11h Gratuito Inscrições: Tel. 11 2245 1937 Informações: setoreducativo@institutotomieohtake.org.br
OFICINA DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA EM LIBRAS (LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS) PARA SURDOS
A atividade tem como objetivo promover manifestações artísticas em LIBRAS a partir de leitura e debate sobre obras da exposição, discutindo hábitos ligados às culturas surdas. 29 de julho, às 14h30 12 de agosto, às 14h30 Gratuito 20 vagas Inscrições: www.institutotomieohtake.org.br Informações: setoreducativo@institutotomieohtake.org.br
VISITA E OFICINA COM AUDIODESCRIÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Experiências sensoriais na exposição, direcionadas em algumas obras selecionadas com audiodescrição, propondo reflexões estéticas e sociais de diferentes artistas. 29 de julho, às 11h 12 de agosto, às 11h Gratuito 20 vagas Inscrições: www.institutotomieohtake.org.br Informações: Tel. 2245 1937 ou setoreducativo@institutotomieohtake.org.br
PRESENÇA
Uma programação especial voltada a discutir os espaços que a mulher ocupa hoje, tanto na cultura quanto em outros âmbitos da sociedade

Com base em exposições e atividades realizadas esse ano no Instituto Tomie Ohtake, como Yoko Ono “O Céu ainda é azul, Você Sabe” e as “Invenções da Mulher Moderna – para além de Anita e Tarsila”, as atividades englobam um bate papo, oficinas, iniciativas e visitas guiadas e acessíveis.

No dia 5 de agosto, acontece a abertura da exposição da artista Geórgia Kyriakakis com uma visita guiada feita por ela, assim como uma programação voltada para famílias e públicos com defiència auditiva e visual no contexto da exposição “Invenções da Mulher Moderna – para além de Anita e Tarsila”.

No dia 06 de agosto, as atividades terão como foco mulheres que vêm se engajando em questões cruciais para a inserção e empoderamento feminino tanto no âmbito artístico e cultural, quanto iniciativas sociais e políticas.

Além de visitas guiadas na exposição “Invenções da Mulher Moderna – para além de Anita e Tarsila”. durante o dia  também acontece a oficina de estamparia manual organizada pelo coletivo baiano AFROTONIZAR, que aborda questões como moda, comportamento, empoderamento negro e feminino, sexualidades, empreendedorismo e as novas narrativas que permeiam o afrofuturismo brasileiro.

Encerrando a programação, o bate papo intitulado “Sou dessas” com Nátaly Neri, Preta Rara e Giovana Xavier é uma chamada a mulheres de diferentes contextos a se afirmarem em suas especificidades. A expressão é sinônimo de despojamento, libertação e questionamento.

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