Tomie Ohtake entrou no campo da prática artística aos 39 anos, entrada que se revela também como gesto de abertura de um novo território. Território para si e para o outro. De forma independente e sem aderência à narrativa hegemônica da arte, Tomie fez seus estudos e seguiu produzindo durante décadas. Criou, investigou, experimentou — pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, obras públicas.
Na trajetória da artista, se repetem a obstinação da pesquisa, o rigor na produção e uma atitude livre, sem nunca se filiar, seja a uma ideia, movimento, grupo, linguagem ou manifesto. Uma artista em permanente transformação, em movimento, de trajetória independente, mas com interlocuções com críticos e artistas diversos. Uma artista que fez da sua própria casa um lugar de acolhimento-cruzamento de pessoas de diferentes gerações, perspectivas e origens.
Nascida em Kyoto, no Japão, no dia 21 de novembro de 1913, chegou ao Brasil em 1936 para visitar um de seus cinco irmãos. Impedida de voltar, devido ao início da Guerra do Pacífico, acabou ficando no país. Casou-se, criou seus dois filhos – Ricardo e Ruy Ohtake –, e com quase 40 anos começou a pintar, incentivada pelo artista japonês Keiya Sugano.
A carreira atingiu plena efervescência a partir dos seus 50 anos, quando realizou mostras individuais e conquistou prêmios na maioria dos salões brasileiros.
Em sua extensa trajetória, participou de 20 Bienais Internacionais (seis de São Paulo, uma das quais recebeu o Prêmio Itamaraty, Bienal de Veneza, Tóquio, Havana, Cuenca, entre outras), e contabiliza em seu currículo mais de 120 exposições individuais (em São Paulo e mais vinte capitais brasileiras, Nova York, Washington DC, Miami, Tóquio, Roma, Milão, etc) e quase quatro centenas de coletivas, entre Brasil e exterior, além de 28 prêmios.
Sobre o seu trabalho foram publicados dois livros, vinte catálogos e oito filmes/vídeos, entre os quais o realizado pelo cineasta Walter Salles Jr. Em São Paulo, a artista dá nome a um vibrante centro cultural, o Instituto Tomie Ohtake. Em comemoração ao seu aniversário de 97 anos, o Instituto exibiu cerca de 25 pinturas em grandes dimensões que investigam o círculo, produzidas em 2010.
Com seu reconhecimento, Tomie tornou-se uma figura emblemática das artes e da cultura no Brasil. Assim, durante toda sua vida foi sempre convocada a receber grandes personalidades internacionais, como a Rainha Elizabeth, o Imperador, a Imperatriz e o Príncipe do Japão, o dançarino Kazuo Ohno, a coreógrafa Pina Bausch, a artista Yoko Ono, o escritor José Saramago, o encenador Robert Wilson, entre muitos outros.
Em 2012, além da obra pública para Tóquio, criou uma série de pinturas azuis, nas quais, mais uma vez, fica evidente o seu interesse em renovar-se ao inventar uma nova pincelada – a pincelada como forma, sem que a tela perca o movimento e a profundidade característicos de sua produção.
Assista ao documentário “Tomie” (2015) sobre Tomie Ohtake. Um filme de Tizuka Yamasaki.
- Aeroporto Internacional de Guarulhos, 2008
- Auditório Ibirapuera, 2004
- Avenida 23 de maio, 1988
- Barra Funda, 2013
- Casa de Cultura Japonesa, 1997
- Cidade Universitária — USP, 1997
- COMPANHIA BRASILEIRA DE METALURGIA E MINERAÇÃO - CBMM, 1977
- Complexo Arquitetônico de Registro, 2002
- Complexo Ohtake Cultural, 2003
- CTBC TELECOM, 1997
- Edifício Berrini 500, 2000
- Edifício Number One, 1993
- Edifício Tomie Ohtake, 1985
- Emissário de Santos, 2008
- Escola Maria Imaculada, 1992
- Estação Consolação, 1991
- Galeria Paulo Figueiredo, 1983
- Hotel Address, 1995
- Hotel Brasília Alvorada, 2001
- IEB – Instituto de Estudos Brasileiros da USP, 1994
- Instituto Rio Branco, 1998
- Laboratório Aché, 1997
- Ladeira da memória, 1984
- Lagoa Rodrigo de Freitas, 1985
- Memorial da América Latina, 1990
- Mori Tower em Tóquio, 2012
- Museu de arte contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), 1999
- Museu de arte contemporânea de Tóquio, 2006
- Museu Metropolitano de Arte de Curitiba, 1996
- Okinawa, 2008
- Paço Municipal de Santo André, 2013
- Parque dos Maracás Guaíra, 2008
- Renaissance Hotel, 1996
- Sede Usiminas, 2003
- Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Guarulhos, 2008
- SESC Vila Mariana, 1997
- Theatro Pedro II, 1996
- Usiminas Ipatinga, 2004