Quadro Desquadro Requadro
Arte Atual Festival
Exposição
Passada

Criado pelo Instituto Tomie Ohtake em 2013, o Programa Arte Atual se consolidou como plataforma para pesquisas e trabalhos inéditos de jovens artistas e como um espaço de mostras coletivas construídas a partir de perspectivas múltiplas e heterogêneas sobre uma mesma questão. Desdobramento do projeto, o Arte Atual Festival chega a sua segunda edição propondo aos artistas convidados um processo ainda mais dinâmico e experimental, favorecendo o risco, a provocação e o transito entre linguagens.
A edição deste ano faz parceria com o Festival Path 2016, evento que ocupa também o Complexo Aché Cultural. Denominada Quadro, Desquadro, Requadro, a mostra debruça-se sobre as condições fundantes para a experiência do enquadramento nas artes. As artistas convidadas pelos curadores Paulo Miyada e Olivia Ardui – Ana Mazzei, Renata De Bonis, Manuela Eichner, Patrícia Araujo, Claudia Briza e Márcia Beatriz Granero – foram escolhidas pelo comprometimento com as questões da encenação e do colocar-se em quadro.
Os trabalhos apresentados são quase em sua totalidade realizados especialmente para esta exposição. Ana Mazzei e Renata De Bonis buscam referências na história da pintura. Em 2015, convidada a participar de uma residência artística na Alemanha, De Bonis conheceu in loco as paisagens retratadas pelo célebre pintor Caspar David Friedrich. Durante as visitas, a artista gravou a sonoridade desses locais, que na exposição são confrontadas ao imaginário construído em torno das potentes e emblemáticas paisagens do romantismo alemão. Por outro lado, Ana Mazzei apresenta seus mobiliários que, segundo a curadoria, “evidenciam as estruturas formais, semânticas,gestuais e simbólicas que sustentam as composições pictóricas de Jacques Louis David ou Giotto”.
Já Manuela Eichner e Patrícia Araujo pesquisam a ideia de embate de um corpo com outros corpos e/ou com a paisagem e o tecido urbano. Em uma instalação híbrida, Araújo propõe uma reflexão acerca da reação dos corpos perante a destruição provocada por desastres naturais ou pela especulação imobiliária. Já Eichner, utilizando o conceito da colagem e se valendo da fragmentação própria dessa técnica, mescla imagens e elementos de origens diversas e busca extrapolar o plano bidimensional para investir o espaço em montagens tridimensionais.
Por fim, Márcia Beatriz Granero e Claudia Briza usam táticas de enquadramento e encenação que fazem alusão direta ao cinema narrativo tradicional. Enquanto Márcia Beatriz Granero faz do Instituto Tomie Ohtake o novo cenário de investigação de sua personagem Jaque Jolene, também interpretando personagens para si, Claudia Briza interage com trechos de filmes selecionados, em vídeos, nos quais ao mesmo tempo exagera e reafirma o caráter selado do quadro da ficção.
Durante o período expositivo, as ideias propostas pela curadoria são ampliadas por meio de um programa de ações paralelas com convidadas que trabalham outros campos de pesquisa, sempre engajadas na exploração de modos de construir, desfazer e refazer enquadramentos. Dalila Camargo Martins ministra palestra sobre o enquadramento no âmbito do cinema experimental, enquanto Clarice Lima, que pesquisa as relações entre texto e dança, propõe a composição de uma coreografia ao vivo a partir do movimento do público do hall do Instituto. Por fim, Carolina Bianchi convida o público a participar da oficina Manifesto de um corpo delirante, uma vivência centrada nas relações do corpo na e com a cena teatral.
Assim como em sua primeira edição, em Arte Atual Festival – Quadro, Desquadro, Requadro, a curadoria sugere que os próprios artistas, em parceria com a equipe do Instituto, realizem a montagem dos trabalhos e a ocupação do espaço. Uma experiência para permitir diferentes alternativas de diálogo entre as obras e que permanecerá aberta a mudanças também enquanto a exposição estiver em cartaz. Ao utilizarem linguagens e abordagens variadas, os participantes evitam modelos prefixados e negociam a ocupação de um espaço compartilhado, fugindo de recortes temáticos referenciais.
“Mais do que propor respostas definitivas, Quadro, Desquadro, Requadro sublinha a ambiguidade e dificuldade de discernir o limite da cena e a delimitação do campo da imagem como fronteiras definitivas. As obras, performances, palestras e oficinas que integram essa edição do Arte Atual Festival apontam para o espaço da representação como um meio de contenção que segue uma lógica de inclusão e exclusão sempre viva, como membrana entre os espaços da arte e da vida”, apontam os curadores.
