FRATURA
Paulo Pasta
Exposição
Passada

O Instituto Tomie Ohtake criou em 2013 o Arte Atual, uma plataforma para pesquisas artísticas, de caráter experimental, na qual, por meio de uma questão sugerida pelo seu Núcleo de Pesquisa e Curadoria, coordenado por Paulo Miyada, um grupo de artistas convidado desenvolve um novo trabalho. A partir das obras de Adriano Costa, Arjan Martins e Juliana Cerqueira Leite, os curadores propõem questionar as urgências do tempo presente e seu apego à própria descartabilidade. “Em uma época que resiste a planejar seu futuro ou a conhecer seu passado, talvez seja o momento de questionar a fugacidade do que se propaga ao redor: e se nada – nenhum produto, nenhum corpo, nenhuma história – for tratado como descartável? ”, analisa Miyada.
Em suas obras, o paulistano Adriano Costa lança mão de objetos e imagens banais hoje produzidos, consumidos e supostamente esquecidos, para, como aponta a curadoria, recombiná-los até a lógica dos produtos fraturar o fazer artístico e vice-versa. “Até o ponto em que se possa perceber que os artefatos, imagens e ideias mais avançados na cadeia produtiva atual são materiais do presente e podem ser já a memorabilia das ruínas que existirão no futuro”.
Já o carioca Arjan Martins, em sua pintura, reconfigura valores de ícones já capturados por narrativas fáceis de consumir e símbolos de grande circulação social, especialmente relativos à história da colonização do Brasil e às visões e versões sobre a imigração e a escravidão africanas. “Em cartografias pintadas, procura, por exemplo, o avesso do papel heroico atribuído às caravelas e outros baluartes do projeto colonial, ao mesmo tempo em que se questiona a constante representação de imigrantes como alquebrados subalternos”. Miyada acrescenta: “sabendo ainda que, assim como a tinta sobre a tela, todo esforço crítico tende a escorrer no regime vigente de consumo de todo tipo de imagem”.
Por sua vez, Juliana Cerqueira Leite, artista nascida em Chicago e que atualmente reside em Nova York, faz do próprio corpo molde, motor e matriz. Peças desse corpo esculpidas constroem uma ponte entre a obra e a identidade desse mesmo corpo. De acordo com a curadoria, a artista imprime sequências de movimento e empilhamentos de gestos em esculturas que, por um lado, vão além do reconhecimento de sua anatomia e, por outro, dependem do confronto físico direto com a resistência e plasticidade da matéria que molda sobre si: a ação não exprime uma ideia, mas imprime posições.
“Com estratégias tão diversas, esses três artistas arriscam-se a colocar-se em rota de colisão com o presente, não para capturá-lo ou vencê-lo, mas para deixar-se fraturar com seu empuxo e, assim, criar rastros para sua voracidade”, completa Miyada.
