Programação

Imaginar Futuros: Decolonizando o museu

Françoise Vergès e Sandra Benites

Programa público

02 de outubro de 2023
19H ENTRADA GRATUITA SEM INSCRIÇÃO PRÉVIA TRADUÇÃO SIMULTÂNEA PORTUGUÊS/FRANCÊS

Passada

estátua preta em fundo azul
Numa civilização da imagem, saturada pelo volume e pela efemeridade de imagens planas, superficiais e sem enigma, quais e como as imagens podem nos provocar a rupturas e leituras renovadas do maior desafio de toda a (breve) história da humanidade?

A crise ambiental, fato amplamente amparado pela ciência, é desafio urgente e primordial não só de hoje, mas também de todo e qualquer futuro que possa haver pela frente. Como declarou recentemente o filósofo francês Bruno Latour, atravessamos pelo menos os dois últimos séculos feito sonâmbulos, alheios ao alerta evidente dos desastres ecológicos. Nos tornamos, enfim, aqueles que teriam podido agir, nos deparando tardiamente com os danos irreversíveis da nossa própria ação.

Na profunda mutação que a humanidade deverá encarar daqui em diante, a cultura terá papel central na revisão, atualização e produção de imaginários, epistemologias e paradigmas que reposicionem nossa relação com aquilo que chamamos de natureza e que, em consequência, permitam a todas as espécies uma sobrevivência digna.

A natureza não só se depara como uma espécie de fim – tanto ligada à sua decadência material como enquanto conceito – como escancara cada vez mais suas finalidades, no sentido da interdependência vital desta com os seres humanos, cuja separação é apenas artificial. Junto ao declínio ambiental e a realidade do Novo Regime Climático, esgotam-se os projetos vigentes de mundo clamando por uma maior diversidade de representações, de saberes e cosmologias. Trata-se, sobretudo, da necessidade de revivermos saberes de povos originários, negligenciados pelas sociedades ocidentais, e que podem nos ajudar a imaginar, antes que um novo mundo, um novo povo, como argumentado pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.

Neste ciclo de investigação transdisciplinar promovido pelo Instituto Tomie Ohtake e a Embaixada da França no Brasil / Consulado Geral da França em São Paulo, artistas, ambientalistas, cientistas, ativistas, antropólogos e filósofos franceses e brasileiros de destaque debatem o estatuto atual das relações entre cultura e natureza, a partir de um mergulho em imagens.

A cada encontro, materiais visuais distintos do campo da arte, da cultura e da ciência servem de disparadores para leituras possíveis acerca do que tange o humano, o meio-ambiente, e as relações estabelecidas entre ambos.

Palestrantes
Françoise Vergès
Françoise Vergès nasceu em 1952, em Paris, França. Cientista política, historiadora, ativista e especialista em estudos pós-coloniais, Vergès cresceu na ilha da Reunião (França) e morou na Argélia, no México, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Graduou-se em Ciências Políticas e Estudos Feministas na San Diego State University (1989). PhD em teoria política pela Berkeley University of California (1995), publicou sua tese Monsters and Revolutionaries: Colonial Family Romance and Métissage [Monstros e revolucionários: o romance e a mestiçagem da família colonial] pela Duke University Press (1999). Lecionou na Sussex University e na Goldsmiths College (Inglaterra). De 2009 a 2012, presidiu o comitê nacional francês de preservação da memória e da história da escravidão. Entre 2014 e 2018, foi titular do programa Global South(s) no Collège d’études mondiales da Fondation Maison des Sciences de l’Homme. Publicou diversos artigos sobre Frantz Fanon, Aimé Césaire, abolicionismo, psiquiatria colonial e pós-colonial, memória da escravidão, processos de creolização no oceano Índico e novas formas de colonização e racialização. Trabalha regularmente com artistas, tendo sido coautora dos documentários Aimé Césaire face aux révoltes du monde [Aimé Césaire em face das revoltas do mundo] e de Maryse Condé: une voix singulière [Maryse Condé: uma voz singular], ambos dirigidos por Jérôme-Cécile Auffret, e consultora curatorial da Documenta 11 (2002) e da Paris Triennale (2012). Organizou as exposições L’Esclave au Louvre: une humanité invisible [O escravo no Louvre: uma humanidade invisível], no Museu do Louvre, em 2013, além de Dix femmes puissantes [Dez mulheres poderosas], em 2013, e de Haiti, medo dos opressores, esperança dos oprimidos, em 2014, ambas para o Mémorial de l’abolition de l’esclavage, de Nantes.
Sandra Benites
É educadora graduada em Licenciatura Intercultural Indígena pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestre e doutoranda em Antropologia pelo Museu Nacional, curadora indígena Guarani Nhandeva e atualmente é diretora de Artes Visuais na Funarte. Possui experiência em docência em escolas indígenas guarani. Fez parte do grupo de mulheres indígenas da Associção Indígena Guarani e Tupinikin (AITG) entre os anos de 2010 a 2013, em Aracruz (ES) representando sua aldeia (Aldeia Boa Esperança). Recentemente foi supervisora de Programação Cultural do Museu das Culturas Indígenas de São Paulo e atuou em projetos junto ao SESC-SP. Sua experiência como curadora incluem as exposições “Nhande Marandu – Uma História de Etnomídia Indígena” no Museu do Amanhã (RJ), “Nhe’e Se” em parceria com Salissa Rosa e em parceria com Anita Ekman assinou a curadoria de “Ka’a Body: Cosmovision of the Rain Forest” exibida na galeria Radicants, em Paris e no Paradise Row, em Londres. Também foi cocuradora da exposição “Dja Guata Porã: Rio de Janeiro Indígena” no Museu de Arte do Rio (MAR), junto a Clarissa Diniz, Pablo Lafuente e José Ribamar Bessa Freire. Benites também foi a primeira curadora indígena do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), na exposição Histórias Brasileiras. Recentemente Benites lecionou em várias instituições americanas, incluindo o Hammer Museum, o MoMA e o Harvard's Peabody Museum e participou do programa de residência artística no Clark Institute, em que está produzindo uma publicação baseada nos conceitos de corpo-território e territorialidade indígena.
Sobre o Ciclo Imaginar Futuros
Curadoria
Priscyla Gomes - Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake Carol Tonetti - Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake
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