Programação

Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak

MIS Ceará

Exposição

de 26 de abril a 26 de julho de 2025
Museu da Imagem e do Som Chico Albuquerque Fortaleza, Ceará ENTRADA GRATUITA

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Itinerância
Esta exposição acontece no Museu da Imagem e do Som Chico Albuquerque (MIS Ceará), em Fortaleza (CE); originalmente, esteve no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo (24.OUT 2024—4.FEV 2025)
Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak
Curadoria de Ailton Krenak

Em agosto de 1993 deu-se o primeiro de muitos encontros que uniriam dois caminhos aparentemente tão diversos. Hiromi Nagakura, fotógrafo japonês, havia chegado recentemente ao Brasil para mais uma de suas viagens. Ainda não conhecia pessoalmente o ativista indígena Ailton Krenak, mas ao tomar contato com as imagens do discurso emblemático do futuro amigo na Assembleia Constituinte (1987), almejou tê-lo como parceiro e interlocutor em sua busca pelas diferentes etnias dos povos originários brasileiros.

Além da distância geográfica, a barreira do idioma também parecia ser um entrave para esse encontro. Eliza Otsuka, intérprete de Nagakura, foi responsável pela aproximação desses universos, participando a partir daí de uma série de percursos realizados em conjunto, embriões de uma longeva amizade.

A exposição agora apresentada ao público brasileiro traz uma seleção única de registros realizados pelo grande fotógrafo japonês nos anos 1990 por meio de diversas expedições aos estados do Acre, Roraima, Mato Grosso, Maranhão, São Paulo, Pará e Amazonas. Juntos, Krenak e Nagakura puderam aproximar-se, conviver e registrar a cultura dos povos Krikati, Gavião, Xavante, Huni Kuin, Yawanawá, Ashaninka e Yanomami.

Com curadoria de Ailton Krenak, a mostra – que já passou pelas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte – chega agora a Fortaleza com a possibilidade singular de percorrer a potente trajetória de Hiromi Nagakura no fotojornalismo internacional.

Agradecemos primeiramente a todo o povo das aldeias, homens, mulheres e crianças que receberam Hiromi Nagakura e Ailton Krenak em suas casas com generosidade e alegria: Watoriki (Yanomami), São Pedro (Xavante), Mãe Maria (Gavião), São José (Krikati), Nova Esperança (Yawanawá), Apiwtxa (Ashaninka) e São Joaquim (Kaxinawá). Agradecemos a Angela Pappiani, Eliza Otsuka e Priscyla Gomes pela dedicação e assistência na curadoria deste projeto.

A exposição Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak não seria possível sem o apoio do Museu da Imagem e do Som do Ceará Chico Albuquerque. O Instituto Tomie Ohtake agradece à Secretaria da Cultura do Estado do Ceará e ao Instituto Mirante de Arte e Cultura.

Sobre
Hiromi Nagakura
Hiromi Nagakura nasceu em 1952 na cidade de Kushiro, ao norte da ilha de Hokkaido, no Japão. Desde criança, amou gente e a natureza, interessado em pessoas e culturas de outros lugares do mundo. Sentia-se atraído pelo novo, pelo desconhecido. Viajou para destinos diversos, visitou as ilhas do Pacífico Sul, entrou em contato com povos nômades do Afeganistão. Foi então que sentiu a necessidade de documentar seus encontros e começou a praticar e se aperfeiçoar nas técnicas da fotografia. Para ele, desde o início, a fotografia sempre foi um instrumento para se relacionar com o mundo e a diversidade de culturas, paisagens e pensamentos. Formou-se em direito, mas seguiu a carreira de fotógrafo. Trabalhou na agência noticiosa Jiji Press porque admirava os fotógrafos reconhecidos por seus trabalhos de cobertura de guerras. Em 1979, com 27 anos, Nagakura decidiu tornar-se fotojornalista independente, caminho que acabou levando-o a conhecer a África do Sul, Zimbábue, União Soviética, Afeganistão, Turquia, Líbano, El Salvador, Bolívia, Peru, Brasil, Indonésia, México, Groenlândia e vários outros países, em todos os continentes. Realizou centenas de viagens e exposições, publicou dezenas de livros, foi personagem de inúmeros documentários, escreveu reportagens, ministrou oficinas e palestras, recebeu prêmios. Sua obra, já reconhecida no Japão, é exposta pela primeira vez no Brasil na exposição Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak, com curadoria desse amigo e personagem de seu trabalho.
Ailton Krenak
Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu em 1953 no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, quando o povo Krenak vivia no exílio, expulso de seu território tradicional por invasores que ocuparam e depredaram as matas densas às margens do Watu, como o povo originário chama seu avô-rio. Depois, nos anos de ditadura, a antiga aldeia Krenak foi transformada em prisão indígena, testemunha da violência contra os povos que insistiam em desafiar a ordem imposta vivendo de um modo diferente. Ailton viveu parte de sua vida em São Paulo, onde estudou e começou sua militância no movimento que começava a surgir no final dos anos 1970, reunindo indígenas de muitas etnias em torno de uma luta comum por direitos. Sua imagem pintando o rosto de preto no Congresso Nacional tornou-se símbolo da resistência indígena na Constituinte. Coordenou a União das Nações Indígenas, o Núcleo de Cultura Indígena, o Centro de Pesquisa Indígena, a Embaixada dos Povos da Floresta e a Aliança dos Povos da Floresta ao lado de seringueiros, extrativistas e ribeirinhos pela vida da (e com a) Floresta. Regressou nos anos 2000 a seu território, que ajudara a consolidar em 1999. Hoje vive às margens do Watu, ferido pela lama do rompimento da barragem de dejetos da Samarco em 2015. Ali o povo se fortalece, rememora a língua e os ritos, restabelece a vida. Nos últimos anos, Ailton Krenak tem se dedicado à manifestação do pensamento através do som e do poder sagrado das palavras, refletindo sobre temas que afetam a todas e todos nós, seres vivos de todas as humanidades, companheiros da mesma canoa Terra que navega no firmamento. Suas palavras estão registradas em livros que nos aproximam da cosmologia dos povos originários e confrontam nossa vida cotidiana. Autor de Ideias para adiar o fim do mundo (2019), A vida não é útil (2020) e Futuro ancestral (2022). É comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Em 2023, foi eleito como o primeiro indígena membro da Academia Brasileira de Letras. Conheceu Hiromi Nagakura em 1993, e agora, 30 anos depois, eles se reencontram nas curvas dos rios amazônicos na mostra de fotografias "Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak".
Sobre os Povos Originários
Krĩcatijê – Krikati (Maranhão)
Tempo de contato: 250 anos Tronco linguístico Macro-jê, Família Timbira População: cerca de 1.200 pessoas Os Krĩcatijê – “aqueles da aldeia grande”, como se autodenominam os Krikati – são um povo guerreiro. Pertencem à grande família dos Timbira. Mesmo com mais de 250 anos de contato com os colonizadores que ocuparam essa região do Maranhão com disputas e violências, esse povo luta bravamente para manter seu território tradicional e sua cultura. A Terra Indígena Krikati, demarcada nos anos 1990, está localizada nos municípios de Montes Altos e Sítio Novo, a sudoeste do estado, nas bacias dos rios Tocantins e Pindaré-Mearim. Apesar de demarcado, o Território sofre invasões e depredações do patrimônio natural, havendo até mesmo projetos governamentais de desenvolvimento, como a construção de linhas de transmissão de energia no Território, sem consulta nem estudos de impacto. O povo Krikati se mobiliza para proteger a terra e suas tradições. Toda a vida da aldeia se divide em dois grandes tempos: o tempo das chuvas, quando acontecem os rituais ligados à fartura e à natureza, e o tempo da seca, quando acontecem as cerimônias de iniciação dos jovens. Os cantos são o eixo das cerimônias que reúnem o povo em torno da grande árvore “barriguda” no centro da aldeia principal de São José. A força vem do canto coletivo, do movimento vigoroso do maracá nas mãos do puxador, das vozes de homens e mulheres ecoando no cerrado durante a noite toda. As coreografias da dança e os corpos pintados de jenipapo e urucum imitam os movimentos e as formas da natureza. Nagakura-san se apaixonou pelo povo Krikati, por sua beleza e espontaneidade, resiliência, bravura e doçura. Visitou a aldeia em três ocasiões diferentes.
A’uwê Uptabi – Xavante (Mato Grosso)
Tempo de contato: 75 anos Tronco linguístico Macro-jê Aproximadamente 23 mil pessoas O povo Xavante se autodenomina A’uwê Uptabi – “gente verdadeira”. É guerreiro e caçador. Vive nos vastos campos do cerrado, desde que os ancestrais atravessaram o rio das Mortes há quase 200 anos. Resistiram bravamente à entrada das frentes de atração na década de 1940, atacando com flechas e bordunas os aviões que sobrevoavam a aldeia. A pacificação dos “warazu” – os estrangeiros – se deu a partir de 1946, durante a Grande Marcha para o Oeste, iniciada no governo de Getúlio Vargas (1930-1945). Apesar de terem nove Terras Indígenas demarcadas, em diferentes municípios do estado do Mato Grosso, cada uma delas lida com diferentes ameaças ao patrimônio físico e cultural, com interferência de religiões, agronegócio, projetos de desenvolvimento e avanço das cidades. Os A’uwê são de uma linhagem antiga, vieram da raiz do céu. Os homens usam o brinco e a gravata cerimonial de algodão. Homens e mulheres se pintam com jenipapo, carvão e urucum, tiram as sobrancelhas e os cílios, usam cordinhas nos pulsos e pernas. O corte de cabelo, os adornos e pinturas dão identidade ao povo Xavante que segue praticando seus rituais de formação dos jovens e iniciação espiritual. O sonho direciona a vida, dá o rumo, a orientação, responde a todas as questões. É no sonho que chegam os cantos, transmitidos pelos ancestrais e partilhados com todo o povo da aldeia. A cerimônia de furação de orelha é um marco para toda a comunidade. Acontece a cada 5 anos, quando os meninos que ficaram reclusos na casa dos solteiros completam seu aprendizado dos princípios da tradição. Nagakura-san ficou impressionado com a força e determinação do povo e com o sentido de vida coletivo. As imagens revelam essa admiração nas danças circulares e no grupo de homens deitados no pátio central, reunidos para sonharem juntos.
Guarani - M’bya, Ñandeva e Kaiowá (São Paulo e outros estados)
Tempo de contato: mais de 500 anos Tronco linguístico Tupi – língua Guarani Aproximadamente 50 mil pessoas em vários estados Os Guarani são o povo originário das regiões Sul e Sudeste, desde o Rio Grande do Sul até o Espírito Santo, com população também no Pará e Tocantins e nos países vizinhos, como Argentina, Bolívia e Paraguai. No estado de São Paulo são dezenas de aldeias na Serra do Mar e 24 aldeias no perímetro urbano da Capital, em três Terras Indígenas – Jaraguá, Krukutu e Tenondé Porã. Os Guarani vivem com bravura estes tempos de desafios em que precisam defender territórios, os Tekoás, ameaçados principalmente pelo agronegócio e pela especulação imobiliária em São Paulo. E se adaptam à nova realidade, preservando a tradição para se manterem como povo indígena – “gente de verdade”. São eles que, com seus conhecimentos tradicionais, espiritualidade e a língua Guarani, transmitidos de geração a geração, têm protegido trechos ainda vivos da Mata Atlântica – Nhe’ ery. Seu canto forte e poderoso é passado de geração a geração, desde que Nhanderu criou o mundo e todas as coisas. Reúne a cada final de dia o povo na Opy, a Casa de Rezas, e com o ritmo do mbaraká (chocalho) e a fumaça do petynguá, cachimbo cerimonial, ajuda a manter o céu suspenso. Os cantos tradicionais são de reverência ao Criador, agradecendo a vida e pedindo iluminação para o espírito seguir seu caminho até encontrar a Terra Sem Males. As crianças cantam juntas, com a força de seu coração puro ao som dos instrumentos – o mbaraká, o violão, a rabeca. Os movimentos da dança completam o canto, fortalecem e preparam o corpo. A fumaça do cachimbo tradicional sobe para o céu estabelecendo a comunicação com os espíritos. Nagakura-san visitou a aldeia Tenondé Porã para conhecer esse povo que enfrenta o imenso desafio de viver numa das maiores cidades do mundo, e registrou, emocionado, os rituais de todo dia dentro da Opy.
Yawanawá - Acre – rio Gregório (também no Peru e Bolívia), município de Tarauacá
Tempo de contato – aproximadamente 150 anos Tronco linguístico Pano Aproximadamente mil pessoas O povo Yawanawá é o povo da queixada. Vive às margens do rio Gregório, nas muitas curvas que ele faz cruzando as florestas onde antes era apenas território tradicional e hoje é o município de Tarauacá, no Acre. Os Yawanawá vivem um intenso momento de fortalecimento de sua cultura e dos conhecimentos tradicionais depois de passarem, do começo do século XX até os anos 1970, por um período de escravidão e apagamento, quando os seringalistas ocuparam os territórios e subjugaram as populações tradicionais do Acre. As casas cobertas de palha, com piso e esteios em paxiúba, palmeira de madeira resistente e escura, são espaços amplos e abertos para a natureza, lugar de convivência e aprendizado, de construção da cultura e relação com o mundo espiritual. Depois de se reconhecerem e serem reconhecidos como um povo originário, conquistando a demarcação de seu território, buscaram recuperar e fortalecer as tradições proibidas por tanto tempo. Hoje buscam divulgar sua cultura e espiritualidade, convidando os não indígenas a conhecerem seu modo de vida e participarem de suas cerimônias que reúnem jovens e anciãos de várias aldeias em celebrações vigorosas. As reclusões de iniciação espiritual envolvem dietas e ingestão de plantas de poder que dão os ensinamentos por meio de visões e sonhos. Os rituais de cura envolvem o Uni, como chamam a ayahuasca. Nagakura-san visitou a aldeia Yawanawá com o amigo Ailton Krenak, quando conviveu com o povo em dias de festa e alegria registrados em suas imagens.
Yanomami (Roraima e Amazonas, Venezuela)
Tempo de contato – mais permanente há cerca de 70 anos Língua Yanomami Aproximadamente 28 mil (no Brasil) Os Yanomami, em seus diversos subgrupos que se deslocam e criam suas aldeias nas florestas do extremo norte do Brasil, talvez sejam o último grande grupo humano vivendo de forma tradicional e livre, com seu conhecimento, sabedoria e arte à semelhança de seus ancestrais criados por Omame. Durante milhares de anos viveram com saúde, desenvolvendo suas tecnologias da floresta, sem nenhuma dependência do mundo que se agitava e se fechava em torno de suas aldeias. Referências sobre eles existem em relatos desde o começo do século XX, mas a pressão dos “nape” – os estrangeiros/inimigos – só chegou de forma avassaladora e destrutiva nas décadas de 1960 e 1970, os anos de ditadura, quando o governo decidiu ocupar “o grande vazio” da Amazônia sem enxergar as populações que ali construíam sua humanidade. Centenas de homens, mulheres e crianças morreram vítima de epidemias e balas, centenas de quilômetros de rios e florestas foram e ainda são destruídos pelos garimpos. A grande crise que hoje nos envergonha já se abateu outras vezes sobre esse povo. E não são essas imagens de fragilidade e dor que representam o povo Yanomami. Elas revelam a ignorância, a ganância e a desumanidade dos nape. Os Yanomami são belos, fortes, sábios. Enfeitam-se de plumas e pinturas de urucum, cultivando roças e manejando a floresta, construindo casas monumentais no meio da mata com sua arquitetura fantástica. A alegria das crianças, as grandes cerimônias rituais, as narrativas e cantos são o legado desse povo que mantém o céu suspenso com suas pajelanças para o bem de todos nós. Nagakura-san esteve na aldeia do Demini com Ailton Krenak por duas vezes. Encantou-se com a sabedoria do povo, com a alegria das crianças e o profundo conhecimento do grande líder Davi Kopenawa Yanomami.
Huni Kuin – Kaxinawá (Rios Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e Purus, Acre, Amazonas e Peru)
Tempo de contato: cerca de 120 anos Tronco linguístico Pano População: aproximadamente 10 mil pessoas O povo Huni Kuin viveu tranquilo nas bacias dos rios Juruá e Jordão até o final do século XIX, quando a borracha se tornou artigo valioso e cobiçado, e os povos nativos, que conheciam e floresta e tinham o domínio da extração do látex, foram escravizados pelos patrões de seringa, no que chamam de tempo da “correria”. A partir da década de 1970 começam a viver o tempo do renascimento, quando recuperam a tradição adormecida durante décadas de escravidão e violências e se afirmam em sua identidade. Os Huni Kuin – “gente de verdade” – são conhecedores profundos da ciência da floresta transmitida aos ancestrais pelos Yuxin, os espíritos/encantados, e através da sabedoria do Nishi Pay – a ayahuasca. Assim, têm tudo de que precisam para a vida na floresta: a medicina, a cura, o cultivo dos alimentos, a habilidade da arquitetura e da navegação. As mulheres são as donas dos Kenes, os desenhos tradicionais do povo Huni Kuin, transmitidos por Yube – a Jiboia – e expressos na arte de tecer, pintar o corpo, fazer cestaria e panelas de barro. A tecelagem, transmitida por Baxem pudu, a Aranha, transforma os fios de algodão tingidos com as tintas da floresta em redes, adornos e nas roupas tradicionais do povo. Nagakura-san subiu o rio Tarauacá até quase a divisa com o Peru, em dias de navegação em tempos de seca. Na aldeia, o fotógrafo se alegrou com as crianças e mulheres em seus trajes tecidos com as cores da floresta.
Akrãtikatêjê – Gavião da Montanha (Pará)
Tempo de contato: mais intensivo a partir de 1920 Tronco linguístico Jê, língua Timbira População: aproximadamente 800 pessoas O povo conhecido como Gavião, habitante das margens do Tocantins, passou a sofrer com o avanço dos “kupen” – estrangeiros/brancos – no final dos anos 1930, quando o interesse pela castanha mobilizava empresários e políticos na região de Marabá. O Serviço de Proteção aos Índios (SPI) tentou por vários anos a pacificação desse povo guerreiro para evitar que fosse dizimado pela população local. Os choques violentos com os invasores e as mortes por epidemias reduziram o povo a 30% de sua população original. O contato do SPI com os grupos Gavião só aconteceu a partir do final da década de 1940. Depois veio o tempo de exploração da mão de obra dos indígenas na coleta da castanha pelo próprio SPI e, a partir da década de 1970, pelas grandes obras do governo militar, que mais uma vez impactaram a vida e a cultura desse povo guerreiro. Seu território foi cortado por estrada, ferrovia e linhas de transmissão de energia, e aldeias foram alagadas pela hidrelétrica de Tucuruí. Foram décadas até que eles se reerguessem e retomassem os rituais, as festas, o orgulho de sua identidade, a alegria de viver. Nagakura-san visitou a aldeia de Mãe Maria, onde fez poucos registros fotográficos. A única imagem do povo Gavião da Montanha nesta exposição retrata o grande líder Payaré com seu filho e uma sobrinha, num barco, no grande lago de Tucuruí, sobre sua antiga aldeia submersa.
Ashaninka (Vale do rio Juruá – Acre e Peru)
Tempo de contato: cerca de 120 anos Tronco linguístico Aruak Aproximadamente 3 mil pessoas (no Brasil) O povo Ashaninka já habitava um vasto território de florestas entre o Acre e o Peru, no Alto Rio Juruá, muito antes de se erguerem as fronteiras dos países que se apossaram dessa região. As famílias que se estabeleceram ao longo dos rios do Alto Juruá, como o Amônia e o Breu, também sofreram, como outros povos do Acre, a invasão dos seringalistas no final do século XIX, começo do XX. Guerreiros fortalecidos em sua tradição e identidade, não se deixaram escravizar, mantendo sua cultura e independência, apesar de todas as investidas. A população cresceu, áreas depredadas por invasores foram recuperadas, os cuidados com o território renderam frutos, caça, peixe e muita fartura. Em conexão com os ensinamentos ancestrais, o sábio povo Ashaninka criou estratégias de enfrentamento e alianças com os não indígenas que chegaram a seu território. Desenvolveram parcerias, equiparam as aldeias com tecnologia de comunicação e monitoramento para controlar as invasões de madeireiros e outras ameaças à vida das pessoas e de todos os seres que ali habitam. Seu traje tradicional – a kushma, tecida em algodão pelas mulheres –, os colares de sementes e plumas cruzados no peito, o chapéu-cocar trançado com palha de palmeira e adornado de penas de arara dão identidade a esse povo orgulhoso e senhor de seus caminhos. Nos rituais da ayahuasca o povo recebe ensinamentos e decide seu futuro. Nagakura-san se encantou com esse povo alegre e confiante, com seus projetos de autonomia e sua música, e principalmente com a generosidade e a acolhida calorosa. As imagens revelam o povo em seu cotidiano.

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